sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

10 Atitudes para Criar Filhos Mais Felizes - 9a. Atitude: Espiritualidade

       "Espiritualidade. Apoiar o desenvolvimento da religiosidade e a preservação da natureza, o respeito ao outro e às diferenças, evitando a disseminação de preconceitos e intolerância."

       Esta posição da espiritualidade em 9o. lugar, resultante da média dos rankins dos especialistas que participaram da pesquisa (veja postagem "10 Atitudes para criar filhos mais felizes - 1a. atitude: Amor e Carinho") foi questionada por Robert Epstein, que comenta:
       "Nossos especialistas mostraram tendência contrária às competências visando o desenvolvimento da espiritualidade. para eles, essa característica ocupou a posição mais baixa da lista e alguns até teceram comentários negativos espontaneamente sobre essa área. Apesar disso, os estudos sugerem que a educação religiosa ou espiritual faz bem às crianças."
       
Um dos grandes benefícios da religião ou espiritualidade é no aumento da resiliência daquele que a cultiva de coração. Mas, o que é resiliência e qual sua relação com a espiritualidade e especificamente com Espiritismo?

       Um trecho do famoso samba "Volta por Cima" do cientista e compositor brasileiro Paulo Vanzolini nos ajuda a entender este conceito:


       
"Reconhece a queda
 Mas não desanima,
 Levanta, sacode a poeira
 E dá a volta por cima."

       
Reconhecer a queda, mas não desanimar: levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima. Esta poderia ser uma definição popular do conceito psicológico de resiliência.

       Resiliência é a “habilidade de voltar rapidamente para o seu estado de saúde ou espírito depois de passar por doenças, dificuldades etc." (Longman Dictionary of Contemporany English - 1995). Em termos gerais, é a habilidade de superar crises e adversidades. (Na postagem INVICTUS, falo de Mandela, um grande exemplo de resiliência, e traduzo o poema "Invictus" que o inspirou e ajudou a se manter firme nos 27 anos de prisão).

       O que faz com que algumas pessoas tenham mais esta habilidade do que outras? Na busca desta resposta, George Antonovsky Bonnano* pesquisou sobreviventes de campos de concentração nazistas que foram capazes de se manter mentalmente saudáveis, a despeito de tudo o que viveram. Bonnano observou nestas pessoas três tipos de habilidades:
        
       1.    A habilidade de compreender os eventos vividos, e integrar essa compreensão à sua vida como um todo. Por exemplo, se a pessoa está passando por uma situação potencialmente traumática, como a vivência de ser prisioneiro num campo de concentração, passando fome, frio e maus tratos, caso veja este sofrimento como sem sentido, ocorrendo num mundo absurdo, cruel, sofrerá muito mais e terá maior dificuldade para superar essa vivência traumática. Se, entretanto, essa pessoa possuir uma visão de mundo (isto é, um conjunto de crenças religiosas, espirituais ou filosóficas) dentro do qual esse sofrimento adquira algum sentido, ela conseguirá superar esse trauma mais facilmente.
       2.    A habilidade de dar sentido emocional à vida (sentir que a vida tem significado) e perceber os problemas mais como desafios do que como cargas pesadas. Não basta apenas essa visão compreensiva do mundo, é importante que ela seja realmente sentida e vivida interiormente, só assim contribuirá para a criação de resiliência.
       3.    A habilidade de usar os recursos de que dispõe para lidar com os problemas da vida, ao invés de ficar na atitude de “eu não posso fazer nada porque não tenho dinheiro, ou não tenho amigos influentes, ou estudo, etc...” Ou seja, é importante que essa visão do mundo leve a pessoa a uma atitude ativa perante seu ambiente.
       
       Ao conjunto destas três habilidades que contribuem para a criação da resiliência, Bonnano deu o nome de senso de coerência.
       
       Será que o Espiritismo pode nos ajudar a adquirir este “senso de coerência”, sobre o qual escreve Bonnano, e assim desenvolvermos a capacidade de superar melhor as frustrações, crises e até calamidades a que todos poderemos eventualmente estar sujeitos? A resposta é Sim, pois a compreensão da Doutrina, sua vivência interior e prática, levam a uma atitude ativa que nos ajuda a superar as provas que enfrentamos, porque:

a)     À medida em que compreendemos cada vez mais profundamente, através da Doutrina Espírita:
- que somos espíritos imortais, “individualizações do princípio inteligente**, criados por Deus, assim como “todas as outras criaturas**;
- que através de reencarnações, “temos muitas existências** que visam o “melhoramento progressivo** de todos nós;
- e que isto se fundamenta “sobre a justiça de Deus**, cujas leis são perfeitas e eternas e embasam “a harmonia que regula o universo material e moral”**;
      
b)    À medida em que, além de compreendermos intelectualmente os ensinamentos da Doutrina Espírita, sentimo-los e os vivemos interiormente, através da prática da “lei de justiça, de amor e de caridade”** e do conhecimento de si mesmo** (reforma íntima), desenvolvemos a habilidade de “dar sentido emocional à vida, e perceber os problemas mais como desafios do que como cargas pesadas”.
       
c)     À medida em que, de fato, compreendemos e sentimos que a Doutrina Espírita não incentiva a passividade, mas sim a ação, a lei do trabalho e do progresso, pois “Deus assiste os que se ajudam a si mesmos, segundo a máxima: ‘ajuda-te e o céu te ajudará’, e não os que tudo esperam do socorro alheio, por um milagre, sem usarem as próprias faculdades, sem nada fazerem”**, desenvolvemos cada vez mais os recursos de que dispomos para lidarmos com os problemas da vida.


       Com a Doutrina Espírita, compreendemos também que, além do entendimento, da inteligência, da vontade e da capacidade de agir, Deus, na Sua infinita bondade, deu-nos outro recurso precioso: a possibilidade de orar. Assim, ao orarmos com confiança, poderemos receber de Deus, gradativamente em consonância com o ritmo do nosso caminhar, a coragem, a paciência e a resignação necessárias, bem como idéias úteis que nos serão transmitidas pelos Bons Espíritos***.
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* Pesquisa publicada em 2004, no American Psychologist, 59, 20-28, com o título “Loss, trauma, and human resilience: have we underestimated the human capacity to thrive after extremely aversive events?” Citada no artigo "Spirituality and Resilience in Trauma Victims" de Peres, J.F.P. et al, 2007 (Jornal of Religion and Health, 46: 343-350. www.springerlink.com).
** Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos: Filosofia espiritualista. (Respostas às questões 79, 81, 166 a 171, 616, 918, 919 e 919-a). Tradução de José Herculano Pires. 5a edição – São Paulo: FEESP, 1991.
*** Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. (Cap. XXVII – item 7).Tradução de José Herculano Pires. 14a edição – São Paulo: FEESP, 1998.

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